Quem
passava pelo antigo casarão dizia que ele era abandonado. Mas muitos
relatos comentavam sobre os gritos que eram ouvidos lá de dentro,
emitidos por uma jovem mulher de pele alva que chorava à noite.
Ninguém
sabia quem era ela, mas todos a chamavam de “Irmã da
Misericórdia”.
A
verdade é que ela era apenas uma sombra vagando em uma casa vazia.
Uma
jovem que amou o próprio irmão e se entregou à paixão incestuosa.
Eles
eram gêmeos. E desde cedo ela tinha ciúmes dele, não admitia que
tivesse outras mulheres, não admitia ver ele conversando com
qualquer outra que não fosse ela.
Ao
completarem 17 anos, ele levou uma amiga para a festa de aniversário
deles e apresentou-a para a família como a sua namorada. Ela não
aguentou ver aquilo e naquele momento, enquanto todos riam e bebiam,
resolveu tomá-lo para si. Nenhuma mulher o amaria como ela o amava.
Depois
de todos irem embora, ela convidou o irmão, já meio alcoolizado,
para ir para seu quarto continuar bebendo e escutando música. Eles
sentaram na cama e falavam animadamente, bebiam muito e brincavam.
Foram até altas horas da madrugada, quando ele, completamente
embriagado e sem conseguir raciocinar mais, “apagou” e deitou na
cama.
Prontamente
ela levantou, trancou a porta do quarto e se deitou ao lado do irmão.
Se despiu e lentamente tirou a roupa dele. Ao ver o corpo dele nu
tocando o dela, ficou mais extasiada ainda. Sua boca percorria o
corpo dele, sugava-o com a fome de um amor proibido. Ela o masturbou
e se masturbou juntamente.
Excitada
por senti-lo inteiro em sua mão, gozou e dormiu.
Acordou
com o grito do irmão. Levantou de uma vez só da cama e o viu em pé,
estático no meio do quarto. Ao dar o primeiro passo na direção
dele, pisou em algo molhado no chão. Ela olhou e viu a poça
vermelha. Levantou a cabeça lentamente, seguindo o rastro de sangue
que começava nos pés dele. Subiu o olhar com medo, vendo que o
vermelho quente escorria pelo branco frio da pele do irmão.
Olhou
para o rosto dele e viu que não tinha nenhuma expressão, não
emitia nenhum som, nenhuma lágrima. Ela baixou o olhar pois algo na
mão dele chamou a sua atenção. Ali estava, pingando sangue como um
pedaço de carne podre, o pênis. Ele o arrancara com as próprias
mãos, como que tentando tirar uma doença cancerígena de dentro do
corpo.
Ele
cai no chão pesadamente, ela se desespera, e também nua se atira ao
seu encontro. Fica abraçada de forma desesperada vendo os últimos
suspiros do irmão.
Ela
não suporta saber que o amor dela se foi, não suporta ver aquilo.
Rapidamente levanta, toda suja de sangue, e pega em sua penteadeira o
canivete butterfly que havia dado para o irmão de presente na noite
anterior.
Ela
não suportaria viver com o que fez, não suportaria ver o corpo do
irmão se deteriorando, sendo devorado por vermes. Com dois
movimentos rápidos, ela abre o canivete e enfia em seus olhos com
violência.
Grita
de dor, mas não simplesmente por furar o globo ocular, mas sim por
perder o amor da sua vida.
Na
manhã seguinte os pais arrombaram a porta do quarto e encontraram os
irmãos mutilados, a mão dela sobre o peito do irmão, como se
estivesse fazendo um carinho.
Hoje
ela é assombrada pelo silêncio, condenada a vagar eternamente em
uma casa vazia.
Seus
olhos não conheciam mais a luz, então ela anda pelas sombras do
esquecimento, buscando a paz que jamais encontrará.
Texto, criação, arte e pós: Nixon Vermelho
Foto: Jeferson Vilanova Reis
Modelo: Jessica Ulmann
Nenhum comentário:
Postar um comentário