Presa
em um quarto escuro.
Assim
ela estava.
Não sabia desde quando estava ali, alguns dias chegava até mesmo a pensar que tinha nascido ali dentro.
Não lembrava mais como era o sol ou se ele realmente existia, não lembrava mais as cores e muito menos como eram chamadas. Vermelho e amarelo pra ela nada significavam.
Seu único contato com o mundo era o prato de comida que era deixado pra ela. Todo dia uma portinhola era aberta e uma mão empurrava um prato de metal com a comida.
Isso era tudo o que ela via. Tudo o que sabia do mundo exterior é que alguém vivia do outro lado da porta.
Mas
quem era esta pessoa?
Por
que trazia comida para ela todo dia?
E
o mais importante de tudo... por que não deixava ela sair dali?
Um
dia a portinhola abriu para entregar o prato de comida e não fechou
novamente. Pela abertura ela podia ver que a pessoa estava ali do
lado de fora parada.
Engatinhou
até ali e se abaixou para poder espiar para fora. Viu os pés parados e tentou tocá-los. Não sabia como, mas podia
sentir que estavam olhando para baixo... olhando para a mão
dela tocando o sapato preto e bem polido.
A
pessoa se abaixou e tocou a mão dela. Pela primeira vez na vida
sentiu o calor de outro corpo. O toque era delicado, suave como um
carinho paterno.
Lentamente empurraram a mão dela para dentro do quarto escuro.
Ela
ouvia algo baixo, um lamurio, um choro talvez. Então escutou algo...
“me desculpe”. E viu a portinhola se fechar.
Naquele
momento ela soube.
Era
a última vez que ela receberia o prato diário de comida.
Era
a última vez que a portinhola se abriu.
Agora...
só lhe restava o escuro e o vazio até o fim.
Texto e arte: Nixon Vermelho
Foto: Jeferson Vilanova Reis
Modelo: Danielly Cerezer Benetti